É possível escolher em qual viver?
Era uma vez um planeta chamado Arret. E nele havia vários países. As paisagens eram as mais diversas possíveis: algumas praias, desertos, montanhas, lagos, construções, etc. As pessoas desse planeta eram ÚNICAS. Havia semelhanças e diferenças entre elas. Algumas falavam a mesma língua e moravam no mesmo país.
Outras se pareciam fisicamente. As semelhanças entre elas costumavam aproximá-las. Entretanto, havia pessoas que pensavam de maneira desigual sobre determinados assuntos. E muitas vezes, esse era o ponto que dificultava a convivência com o próximo: não saber aceitar idéias que fossem diferentes das suas. Essa dificuldade criava o preconceito e o racismo. Isso ajudava a afastar cada vez mais um indivíduo do outro. Eram criados grupos, cujos integrantes só aceitavam o que lhes eram parecidos. Como disse Caetano Veloso em uma de suas músicas: “narciso acha feio tudo que não é espelho.” Havia grupos maiores composto de pequenos grupos, sempre com um objetivo em comum.
Nesse planeta, havia “regras” para se viver. Essas leis foram criadas pelos próximos moradores: algumas em nome próprios e outras atribuídas a deuses. Muitos acreditavam que um bom ser humano era aquele que sabia viver bem de acordo com as normas estabelecidas. A educação dos arretianos eram baseadas nessas regras. Aqueles que não conseguiam se adaptar a essa realidade (muitas vezes imposta) eram tidos como pessoas excluídas.
Para se comunicar, as pessoa utilizavam mais do que a linguagem falada e escrita. Os gestos eram muito importantes, e talvez por isso, nesse planeta havia tantos apelos visuais. Para educar, os indivíduos também utilizavam a comunicação para ensinar as informações, opiniões, etc. As aprendizagens ocorriam em todos os momentos da vida. Uma vez acontecido, a experiência ficava registrada, mesmo quando esquecida.
Uma das formas de ensinar utilizadas em Arret era a punição. Algumas coisas eram proibidas. E para convencer as pessoas a cumprirem essas idéias, os próprios arretianos criavam as mais diversas formas para subjulgar os seres humanos: ameaças, torturas, chantagens, entre outras. Esse tipo de tratamento gerava o medo. Por sua vez, esse temor provocava culpa, insegurança, sacrifício e violência. Por medo, os indivíduos se afastam de determinadas situações como sendo uma forma de auto-proteção. Muitas vezes, ao se distanciar a pessoa acabava por eliminar a possibilidade de frustração. Entretanto fazia isso de tal forma, que esse distanciamento a impedia de usufruir do prazer. Dessa forma, negava a dor e também a satisfação, anulando fantasias e realizações.
Uma das primeiras palavras que as crianças desse planeta aprendiam era o NÃO: “não toque nisso”, “não faça isso”, “não fale aquilo”. Era importante saber o que não se devia realizar, aprendendo a ter limites, embora não se devesse conhecer apenas isso. Seria importante que se soubesse o que se faz necessário em determinadas situações do cotidiano. E essa forma de educação era mantida entre os adultos também: “Diga NÃO a violência”, mas poderia ser: “Diga SIM a paz”.
A palavra NÃO é pequena, e isso ajuda para que em muitos momentos ela passe despercebida. Quando se diz a alguém para não pensar em determinada coisa, o cérebro primeiro pensa no que não era para imaginar, para só depois ser possível retirar da mente o pensamento. O que na verdade gera dois trabalhos: primeiro lembrar para só depois conseguir esquecer.
Nessa mesma época, havia também um outro planeta chamado Possibilidades. Em quase tudo se assemelhava a Arret: havia vários países com vários habitantes. Embora uma diferença entre eles era clara: a forma de educar. Um dos princípios desse planeta, era que as pessoas pudessem ter e oferecer possibilidades de escolha. E lá a liberdade era algo mais tangível do que em Arret. Segundo a definição de Kant liberdade pode ser entendida como sendo o poder de começar por si mesmo (sem causas antecedentes) uma série de modificações. Dentro desse contexto, os possibilitanos eram privilegiados por viverem o mais próximo do “verdadeiro” livre-arbítrio, que pode ser entendido como a possibilidade de exercer um poder sem outro motivo que não a existência mesma desse poder.
As pessoas desse planeta também aprendiam a palavra NÃO, mas sempre acompanhada de outras perspectivas. Se uma criança não pudesse encostar em algo, ela seria avisada do que não deveria e do que poderia fazer. Um exemplo: “Você não pode por a mão nessa tomada, mas pode por nesse tapete, na parede, nos seus brinquedos…”. Essa forma de educação possibilitava uma maior capacidade de reflexão de seus próprios pensamentos e atitudes. Mas esses dois planetas existiram a muitos anos atrás…
Podemos pensar sobre os dias de hoje, através de uma frase: "Maravilhas nunca faltaram ao mundo; o que sempre falta é a capacidade de senti-las e admirá-las." J. Schimidt. E talvez haja muito mais maravilhas a serem percebidas do que se pode imaginar. E você, já escolheu qual mundo vai sentir e admirar agora na sua vida?
Adriana M. A. de Araújo
Psicóloga clínica e hipnoterapeuta ericksoniana. – CRP: 06/56802-5
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Fonte: Adriana de Araújo